“Os idiotas irão tomar conta do mundo, não pela capacidade, mas pela quantidade” (Nelson Rodrigues)
Ano passado, ao assumir uma das minhas turmas, de um grande colégio estadual da minha cidade, fui questionado por um aluno (que já sabia da minha “fama” de exigente em sala de aula): “Fiquei sabendo que ‘o senhor’ pega pesado, como faço para não reprovar na sua matéria?”, minha resposta foi simples e direta: NÃO SENDO UM IDIOTA!
“Professor grosso, chamou o menino de idiota”, se você pensou assim e torceu o nariz para minhas palavras, tenho uma notícia desagradável para você: tu és um idiota! Afinal de contas, o que é um idiota? Vamos lá, eu explico.
Em grego, idios quer dizer “o mesmo”, idiotes, de onde vem a palavra idiota, é o sujeito que é incapaz de pensar por si só e de enxergar o mundo além dele mesmo… É o cara que julga a tudo e a todos com base nos seus achismos e na sua própria pequenez. Resumindo, o idiota é aquele que “vai com a galera”, que não tem a chamada Autonomia de Pensamento, defendida e pregada por Immanuel Kant, no século XVIII.
Abro este post com uma frase do maior (na minha opinião) estudioso de idiotas do Brasil, Nelson Rodrigues, que destaca em seu livro “O Homem Fatal” as muitas faces da idiotia e, cara, tem um cardápio vasto. Mas não fique triste, meu caro leitor/aluno que se enquadra neste perfil comportamental, os idiotas também tem importância, na verdade, eles fazem volume, acabam virando uma imensa “massa” de manobra! Vamos ser sinceros, a maioria esmagadora do povo é composta de idiotas, pessoas que não questionam e que aceitam, de bom grado, tudo que lhe é imposto… A igreja é um exemplo disso, o Catolicismo dominava o mundo com suas fogueiras, tribinais e indulgências, até que, um belo dia, um dos seus membros resolveu sair de sua posição de idiotia e questionar o que era imposto aos fiéis, nascia ali a Reforma Protestante Luterana, que também não deixou de ser uma manipulação de massas… Revolução Francesa, o que seriam dos burgueses se não fossem os idiotas, que nem sabiam o que estava acontecendo, para tomar a Bastilha? Foram os idiotas brasileiros, a maioria absoluta da população, que, sem ao menos saber do que se tratava, aceitou o “Fico” do Pedro I, a “Independência” do Pedro II, a República de Deodoro, a “Paternidade” de Getúlio, o FGTS dos militares, etc., etc., etc.
Para finalizar, transcrevo um trecho do livro “Homem Fatal”, compilado de textos de Nelson Rodrigues, datados de 1967 a 1973, o tempo pode ter passado, mas o perfil do idiota ainda é o mesmo:
Antigamente, o idiota era o idiota. Nenhum ser tão sem mistério e repito: tão cristalino. O sujeito o identificava, a olho nu, no meio de milhões. E mais, o primeiro a identificar-se como tal era o próprio idiota. Não sei se me entendem. No passado, o marido era o último a saber. Sabiam os vizinhos, os credores, os familiares, os conhecidos e os desconhecidos. Só ele, marido, era obtusamente cego para o óbvio ululante.
Sim, o traído ia para as esquinas, botecos e retretas gabar a infiel: “Uma santa! Uma santa!” Mas o tempo passou. Hoje, dá-se o inverso. O primeiro a saber é o marido. Pode fingir-se de cego. Mas sabe, eis a verdade, sabe. Lembro-me de um que sabia endereço, hora, dia, etc., etc.Pois o idiota era o primeiro a saber-se idiota. Não tinha nenhuma ilusão. (…)
(…) E o imbecil como tal se comportava. Nascia numa família também de imbecis. Nem os avós, nem os pais, nem os tios, eram piores ou melhores. E, como todos eram idiotas, ninguém pensava. Delegava aps outros a obrigatoriedade de pensar. A vida política estava reservada aos “melhores”, “deixe que os outros decidam por mim”. Por saber-se idiota, o sujeito babava na gravata de humildade. Na rua, deslizava, rente à parede, envergonhado da própria inépcia e da própria burrice. Não concluia seu ensino básico. E quando cruzava com um dos “melhores”, só faltava lamber-lhe as botas como uma cadelinha amestrada, implorando-lhes favores e esmolas. Nunca, nunca o idiota ousaria ler, aprender, estudar, muito menos, debater. (…)
Por fim, não fique triste, desanimado ou “jururu”, ainda há tempo de salvação e saída para sua posição de idiotia, começa com um passos simples como, por exemplo, ouvir, ler e buscar saber também de pessoas, fontes e assuntos que diferem de suas convicções, respeitar a opinião alheia e não tentar “converter” o coleguinha a qualquer custo e, principalmente, alcançar a sua própria autonomia intelectual, para que não precise se pautar pelos ensinamentos que lhe colocam de goela abaixo.
RECOMENDAÇÃO: Leia, leia, leia… Leia o que você gosta, o que você não gosta, misture Adam Smith com Karl Marx, Rousseau com Maquiavel, mas se obrigue a pensar sem a interferência de terceiros!